* Ponto de Vista *
Quer experimentar o meu?
segunda-feira, 19 de março de 2012
Carta de uma despedida singular
sábado, 26 de março de 2011
Carta ao fogo
Na sua chama vi o mar, vi o ar. Vi até furacão. No meio da dança bonita dessas chamas que parecem brotar do nada e ter vida própria. Vi o que me falta e te sobra.
E quem passou me olhou embebecida de você. Te olhando como a naturalidade mais fenomenal. Vendo um mundo em você, num olhar que pode ter parecido loucura. Eu te ri. E foi como se nas chamas você me risse em cumplicidade.
Louco é não ver a beleza do fogo...
Mudança suave
Hoje acordei e me lembrei de todos aqueles caminhos por onde passei. As horas que andaram, as regras que trocaram, o quanto eu mudei. Tanto que chega a ser engraçado chamar aquele do outro dia de eu. Aquele do outro minuto de eu. Os segundos e segundos, curtos e longos, de repetidos eus...
A alma que antes via os dias tão demorados e a vida tão curta hoje sente os dias leves. E a vida, tão saborosamente longa! Longa o suficiente para se amar tanto que não se queira mudar. Longa o suficiente para se odiar tanto que só se queira renovar. Talvez ela até tenha o tempo certo para a gente achar aquele caminho lá no meio do amor e do ódio. A mudança constante, mas suave como brisa.
Às vezes a vida é longa o suficiente para descobrir a beleza da imperfeição. Mas ela ainda pode ir além. Até aquele ponto em que percebemos que essa tal de perfeição foi algo que alguém bem imperfeito criou. Porque na perfeição não há superação. E aí, cadê a beleza então?
Hoje acordei ouvindo os pássaros e vendo um céu azul. Acreditando que não há nada que não se possa alcançar, caminhos que não se possam trilhar, vidas que não se possam mudar. Hoje eu acredito nisso. Pelo menos até o próximo segundo...
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Reflexões sobre uma sopa
sábado, 20 de novembro de 2010
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Caleidoscópio
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Apenas um primeiro capítulo
É só mais uma tarde em que o sol brilha lindo para aqueles que querem ver a beleza no mundo e normal para aqueles que simplesmente não ligam. Um dia normal para mim. Chegar ao aeroporto, fazer o check-in, despachar malas e tomar aquele cafezinho com gosto de espera. O bilhete em minha mão me diz que meu destino tampouco será inovador. A rota Rio-Paris povoa meus piores pesadelos. Ossos do ofício. Afinal, hei de reconhecer, cheguei onde sempre quis. Ou onde sempre achei que quisesse. Como muitas vezes na vida, ironicamente descobri-me infeliz ao alcançar a meta desejada. Os anos, que não foram tantos, me fizeram desanimado. Não amargurado, pois a amargura antevê um motivo. Eu não. Sempre tive tudo, e não sem mérito alcancei a meta de me tornar diretor executivo de uma grande empresa de minério.
Durante a fila do check-in, os vôos são chamados por aquela tão conhecida voz nos auto-falantes do Galeão. Nos próximos dias, com sorte, fecharei mais um acordo comercial com uma conhecida parceira francesa. Mas, no momento, tudo que desejo é embarcar logo, assistir um filme e tentar mergulhar em alguma história mais interessante do que a que me pertence. Como posso ser tão estranhamente escapista apenas aos 33 anos? Nem eu sei. Sempre busquei a felicidade. Na carreira, nos amigos, nos relacionamentos... E quanto mais busco mais me convenço de que a felicidade é volátil. Mais passageira e frágil do que a primeira infância.
Estava sentando na cafeteria quando o celular tocou. Como sempre, minha mãe: “Oi mãe... tudo bem com a senhora?” – eu disse, irritado como em toda vez que ela ligava.
“Tudo sim, filho. Há quanto tempo você não dá notícia! Já estava ficando preocupada... Tá acontecendo alguma coisa?”
“Muita coisa tem acontecido sim. Acordos, fusões, fechamento de planos. Muito trabalho.”
“Esse seu trabalho tem te sugado muito tempo. Você pareceu tão abatido naquela última vez que te vi! Está precisando relaxar, fazer uma viagem. Namorar um pouquinho...”
“Quanto a fazer uma viagem, seu desejo já está sendo realizado.”
“Viajar para Paris a negócios não conta como viagem! Outra viagem pelo amor de Deus. Um cruzeiro pelo Caribe, quem sabe?”
“Você sabe que eu não tenho esse tempo, mãe. O que eu vou fazer com o escritório? Além disso, fazer um cruzeiro sozinho não é exatamente um ideal de diversão para alguém com menos de 60 anos de idade...”
“Você que sabe, meu amor. Só queria que se divertisse um pouco. Que usasse de verdade o dinheiro suado que você ganha.”
“A hora de usufruir chega, mãe. Uma hora chega. Por falar nisso, estão chamando o meu vôo. Volto em cinco dias. Te ligo.”
“Mas liga mesmo dessa vez, filho.”
“Ligo, ligo... Beijo.”
“Beijo...”
Por que diabos os pais se pensam eternamente no direito de se meterem nas vidas dos filhos? Não adianta quantos aniversários eles façam, quanto dinheiro eles tenham ou quantas rugas surjam em suas caras. Minha mãe também não é das mais fáceis, está sempre atrás de mim. É uma boa pessoa, mas ficou muito carente desde que meu pai morreu, mais ou menos há uns sete anos atrás. Eu até tento dar atenção, mas vivo em constante estado de stress. Principalmente, não tenho saco mesmo. Reconheço.
Terminei o café com aquela calma de quem não se importa nem com o que lhe acontece, nem o que vai acontecer
Sentei e esperei. Eu e minha revista, minha revista e eu. E minha solidão, que mais uma vez tomou conta de mim. Aquela solidão a qual eu já tinha me acostumado como se fosse um fato consumado na minha vida. Uma solidão que só dói quando se lembra que poderia não ser assim. O celular tocou me lembrando que na maioria das vezes eu prefiro, sim, estar sozinho. Era o Bruno, meu melhor amigo de anos e anos de convivência, com o qual a convivência não tem sido tão constante ultimamente, como se é de imaginar. Não vou atender. Não quero sair do meu estado de paz individual e, além disso, vou viajar mesmo. Ele deve querer tomar um chopp... Nunca vi gostar tanto de chopp e jogar conversa fora comendo amendoim de bar. Já que não vou mesmo, não vou atender para evitar perder o tempo e dizer o não. Outro não. O engraçado são as pessoas olhando quando eu não atendo o celular, parece proibido não querer socializar. Aliás, o celular é que devia ser proibido. Qual foi a mente brilhante que inventou uma geringonça que permite que você seja achado por qualquer pessoa, a qualquer hora, em qualquer lugar que você esteja? Deve ter sido alguém muito carente, mesmo...
Começaram a embarcar os passageiros. Já se forma logo aquela fila de desesperados. Não sei de onde vem essa vontade enorme de entrar num avião todo fechado dentro do qual você já vai ser obrigado a ficar nas próximas doze horas. O melhor que eu faço é permanecer no meu marasmo e de preferência ser o último a embarcar. É engraçado pensar no número de realidades paralelas que podem existir numa fila de qualquer qualidade que seja. Casais em lua-de-mel, idosos partindo em uma viagem cultural, executivos a trabalho, adolescentes nervosos partindo em um intercâmbio, pessoas saudosas de um amigo ou uma paixão - esteja esse sujeito que gera a saudade no local da decolagem ou da aterrisagem... Muitas emoções, boas ou ruins, em fervorosa dentro de um só avião. Respirando o ar de estranhos por horas e acordando descabelado ao lado da maior gama possível de desconhecidos dentro de um só avião.
Entrei. Passei a primeira classe com aquele gostinho de inveja. O meu sucesso profissional ainda não tinha chegado a esse ponto e o berço também não ajudava muito. Segui em frente, pois a apertada classe econômica me esperava. Quando entro no avião já começo a ficar nervoso com quem vai sentar do meu lado. É mais ou menos aquela mesma sensação que eu tinha quando andava de ônibus. Melhor conseguir logo sentar ao lado de gente bonita, bem arrumada ou simpática – nessa ordem de preferência - para evitar futuros desprazeres. Sentar do lado de criança sim é um desespero. Não tenho nada contra as crianças – quer dizer, talvez eu tenha, mas não fica muito bem sair espalhando uma coisa dessas -, mas horas de vôo ao lado de prováveis choros e pirraças não é agradável nem para a mais altruísta das criaturas. Idosos também não são os melhores companheiros de vôo. Parece que quanto mais os anos passam mais as pessoas acumulam manias... E o pior: a mania de acumular às suas próprias vidas preocupações desnecessárias. O travesseirinho que está meio duro, o vinho que está meio ácido, o papel higiênico que está muito áspero. Nossa, nunca vi ninguém reclamar tanto que nem velho. E olha que eu passo 24hs do dia comigo mesmo! Tomara que eu sente do lado de pessoas que também estejam viajando sozinhas, para não ter que ficar ouvindo conversa mole dos outros.
Fui andando pelo corredor do avião, naquele anda e para proporcionado pelas pessoas que ficam horas colocando bagagem de mão no bagageiro e devem ser esperadas. Após identificar a minha cadeira, localizada na janela como de costume, me sentei e esperei os primeiros dez minutos de um vôo que ainda me traria mais de dez horas de espera. Na cadeira do corredor sentou uma criança. Agora eu me pergunto: por quê? Nada como começar desejando “merda” para ter um bom espetáculo...